Volkswagen 1600 TL Fastback (1ª Série)
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 Monte Carlo - Crónica de Pedro Black

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Olá a todos

 

Agora que chegámos de mais uma etapa (Monaco-Lisboa) e já com o descanso cumprido vou relatar da melhor forma possivel como correu a nossa prova:
Ao longo dos ultimas edições acompanhei sempre à distancia, as esforços das equipas Portuguesas no Monte Carlo Historico e sobretudo, e como não podia deixar de ser, as provas do João Queiroz e da Marta. Fui criando Tinha grandes expectativas para este rali e não voltei desiludido.
A preparação do carro e da prova começou meses antes ainda em Lisboa. O carro nunca me causou preocupação, primeiro porque a escolha pelo Saab era segura mas sobretudo porque o Carlos Aniceto estava envolvido e nada ia ser deixado ao acaso. Mais preocupante era a falta de experiência dos dois tripulantes tanto no tipo de piso/condução que iamos encontrar como na própria estrutra da prova/regulamentos/navegação. Aproveito para agradecer a ajuda que nos deram nesta fase o Zé Segarra Marques e o João Queiroz, ambos muito conhecedores daquilo que nos esperava. Ainda com o objectivo de estarmos preparados chegamos a ensaiar uma troca de pneus (com cronómetro e tudo) levada a cabo pelo João Abrantes e pelo próprio nas instalações da Old Racers. Parecia um programa dos malucos do riso e acho que o staff da casa nunca tinha tido um espectáculo tão divertido. Graças ao Cuni tivemos acesso ao road-book elaborado pelo próprio, ferramenta essencial uma vez que a organização só fornece uma lista de localidades e estradas que o rali percorre.
Na partida de Barcelona já encontramos ambiente de grande prova com muita gente e aparato. Os concorrentes variavam entre os mais experientes com ambições e meios e outros que partiam à descoberta com tudo o que precisavam dentro do carro de prova. Uma equipa que partiu de Turin a bordo de um Fiat X1/9 resolveu o problema de falta de espaço para a roupa apresentando-se na partida já com o smoking vestido e prontos para a entrega de prémios.

Saimos por volta das 8 da noite e ao fim de 700 mts já me tinha conseguido perder dentro de Barcelona. Isto prometia. Durante a madrugada passamos os Pirenéus e apanhando um pouco de neve no Col d’Ares para animar a coisa entramos em França. Começava a chover a sério mas o carro respirava saúde e a chauffage era potente. Chegávamos muito adiantados a todos os controles mas mesmo às 3 da manhã alguém tinha montado uma barraca com comes e bebes para receber a caravana. Impressionante o acolhimento nas terras por onde passávamos e ainda só estávamos no percurso de concentração. Estrada torna-se muito monotona e o sono começa a apertar enquanto o sol não nasce. Finalmente chegamos a Courtheson por volta das 7 da manhã e encontramos os carros que tinham partido de Turin. Muita gente dentro de um polidesportivo aguardava para voltar à estrada. Alguns deitavam-se em cima do palco e dormiam. Pareceu-me boa ideia e segui-lhes o exemplo. Arrancamos para o resto do caminho e subimos ao Mont Ventoux onde tivemos direito a um bocadinho mais de neve. Chegamos finalmente a St. Andre-les-Alpes e ao fim do percurso de concentração. A caravana ficava completa com mais de 300 carros. As equipas que tinham partido de Oslo estavam há 2 dias na estrada. No meio destas uma conduzia um minúsculo Vespa 400 com motor a dois tempos e tecto de lona o que só prova que há malucos para tudo. Aqui chegados reencontramos a nossa assistência (c’est bon d’etre pilote usine) e colocou-se a duvida sobre se mudamos ou não de pneus para fazer a 1ª ZR (Turini) antes de chegarmos ao Mónaco. Montamos os pneus de pregos ou mantemos os contacto? O Carlos Aniceto e o Neves estão prontos para entrar em acção mas reina a confusão e também a a sensação que não percebemos nada disto. Optamos por levar pregos só à frente, uma de muitas decisões erradas que tomaríamos ao longo do rali.

Arrancamos para a 1ª ZR com a estrada molhada mas neve só mesmo nas bermas. Os pregos faziam barulho mas o carro tinha bom grip lateral e dava para manter um bom ritmo. Só à saída dos ganchos o carro parece patinar mais com os pregos (não temos autoblocante) mas a coisa vai. O maior problema parecia estar no escalonamento da caixa que com os pneus de maior perfil ficava com um grande intervalo entre 2ª e 3ª. Ou bem que o motor ia a gritar em 2ª ou morria muito quando se passava para a 3ª e ainda estávamos a subir. Acabamos a ZR e o trip indicava uma distância substancialmente inferior aos valores do road-book. A aferição que batia certo na ligação estava curta na especial e fazia-nos andar constantemente adiantados. Ficamos em 152º mas problemas maiores estariam para vir.

No fim da ZR encontramos o Carlos e o Neves e seguimos em comboio para o Mónaco. Fantástica a descida para a cidade à medida que vai aparecendo a costa e nos aproximamos do porto. Paramos para voltar a montar os contactos e encher de gasolina. O road-book do Cuni estava perfeito e encontramos o parque fechado após uma sucessão de sinais, cruzamentos e rotundas. Chegados ao Monaco só pensávamos em descansar pois estávamos há 24 horas dentro do carro.

No dia seguinte arrancamos para a etapa Monaco-Valence, resolvemos manter os mesmos pneus para as primeiras três especiais e acertamos na escolha. Entretanto com a ausência de almoço paramos para aliviar e comermos umas barras energéticas (uma experiencia muito semelhante a comer cartão canelado). Continuava muito atrapalhado com a aferição do trip mas a coisa ia melhorando com cada especial ao ponto que ficavamos em 58º na L’Epine/Col des Tourettes, 3º especial do dia. Neste ponto tivemos um assomo raro de inteligência e com um telefonema para o Zé Segarra Marques que rolava várias horas à nossa frente ficamos a saber que iríamos apanhar neve no Col de l’Echarrason.

Outro telefonema para o Carlos para o avisar que íamos precisar de pneus de pregos e combinamos a assistência para o Col de Proncel cerca de 9 Kms antes do inicio da especial. Foi uma assistência à mundial. Ainda mal tinha vazado líquido e agarrado numa sandes e o carro já tinha os 4 pneus trocados, níveis vistos e motor a trabalhar. Afinal havia alguma coisa que funcionava bem nesta equipa e ainda por cima a sandes estava óptima! Tivemos assim a ultima ZR do dia e a primeira com verdadeiro sabor a “Monte” com vários Kms de estrada completamente branca antes de seguirmos para Valence.
Chegados a Valence tínhamos uma recepção preparada. À nossa espera para nos encorajar estava um grupo de “homens do norte” incluindo o Carlos Cruz que ia tirando notas para futuras provas do FCP. Voltaríamos a vê-los várias vezes ao longo dos próximos dias normalmente em alguma zona mais complicada dos troços e normalmente com uma pá na mão e ar sorridente. Muito suspeito. Também em Valence estava o Antonio Caldeira à nossa espera. Ao saber que tínhamos hotel marcado a 40 Kms dali foi-nos buscar ao parque fechado e colocou à nossa disposição um dos quartos que lhe tinha sido reservado pela sua equipa bastante mais perto do parque fechado. Obrigado Toni! Fiquei no entanto convencido que essa mesma equipa não aprecia devidamente o nosso compatriota. De facto aquilo que pensávamos ser apenas um armário afinal era um quarto para 3 pessoas com wc incluído! Quando um queria abrir a mala para tirar a pasta de dentes o outro tinha que sair para a rua para lhe dar espaço. Revolta-te Toni! Mereces melhor.

Quando saímos do armário no dia seguinte encontramos a nossa assistência de excelente humor. Parece que o tal hotel a 40 Kms de Valence ficava afinal a menos de 15 minutos por estrada boa e dispunha de todos os confortos. Adiante. Como a voz da caserna indicava alertas de mau tempo em tudo o que era sítio resolvemos deixar ficar os pregos e foi assim que arrancamos de Valence para a etapa que voltaria para terminar no mesmo sítio. Começamos o dia fazendo a 1ª ZR, St. Pierreville e seguimos para o Burzet. Infelizmente, e digo isto porque é para mim uma das especiais míticas do Monte-Carlo, esta foi anulada porque não estava transitável. Paciência. Continuamos porque seguia-se outro dos nomes famosos, St. Bonnet-le-froid e foi nesta fase que o VH trip resolveu dar o berro resolvendo de vez todos os problemas que eu estava a ter com a aferição. A partir daqui só navegando com o conta-kms do carro (que embora não tivesse parcial curiosamente tinha um erro muito pequeno) e acertando pelas figuras do road-book. Fizemos St. Bonnet onde nos cruzamos com a nossa claque e onde os pregos mostraram o que valiam pela ultima vez no rali. Aqui e sem trip fizemos 111º o que já mostrava outro à vontade na neve e habituação ao carro. Não voltamos a encontrar neve durante o resto da prova mas, como gato escaldado de água fria tem medo, não voltamos a montar os contactos. A nossa assistência vendo-se com pouco que fazer limitava-se a atestar o carro enquanto eu me encarregava de esgotar o stock de sandes. Fizemos Lamastre/Alboussiere e voltamos para o nosso armário em Valence.

Na manha seguinte quando saímos de Valence com destino ao Mónaco devo dizer que ia confiante. O carro funcionava na perfeição e já começávamos a acertar cada vez mais com o programa. De facto as quatro especiais antes do jantar correram bem e em Entrevaux/St. Pierre, ficamos em 63º. Estava convencido que ainda tínhamos hipótese de entrar nos 100 primeiros durante a noite mas a realidade foi diferente. A noite consistia numa “boucle” de dois troços repetidos numa segunda volta. O primeiro destes iniciava com uma subida para o Col do Turini onde se sucediam os ganchos intercalados por rectas íngremes. Aqui reapareceu o problema do primeiro dia. Ou bem que o motor ia a gritar em 2ª ou morria muito ao passar para a 3ª quando ainda estávamos a subir. Continuávamos com os pneus de pregos quando a estrada apenas estava molhada. Por muito depressa que curvássemos nos ganchos as rectas a subir eram um calvário e o atraso ia acumulando. Só quando a estrada começou a nivelar pudemos recuperar para o nosso tempo e quando passamos lá em cima no hotel estávamos outra vez certos. Fantástico o cenário da estrada cheia de gente durante a noite! Tivemos inclusive direito a neve deitada para o meio da estrada como nos bons velhos tempos! (l’ambiance) O problema da caixa repetiu-se na segunda volta (os ganchos continuavam lá) e reinava a desmoralização a bordo. Voltávamos assim para o Mónaco onde chegávamos às 4 da manhã na 116ª posição

Agora que acabado o rali e despachada a longa viagem de volta, volto a dizer que não voltei desiludido. É verdade que tivemos pouca sorte com o tempo no sentido em que pelo menos eu queria um rali com muita neve. Talvez depois mudasse de ideias! Com todas as particularidades que têm a organização o ACM, estas pouca importância têm quando as ambições de classificação são poucas. Uma das poucas coisas que me incomoda é a total indiferença ao trânsito local dentro dos troços que a organização não faz qualquer esforço por desencorajar. As estradas no entanto são uma loucura e as médias difíceis de cumprir. Os locais por onde passamos são carregados de história e as gentes locais genuinamente gostam do Rali. Não é qualquer rali que tem mais de 300 carros à partida e recusa outra centena nos tempos que correm. Não conheço nada igual!

Um abraço para todos e um muito obrigado a todos os que nos ajudaram e apoiaram.

P. Black

 


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