ETAPA DE CLASSIFICAÇÃO (St. Étienne – Valence)
Este percurso tinha cerca de 360Kms., com dois controlos horários de passagem e um de chegada, um controlo de passagem e cinco ZR’s. Entretanto, já tínhamos verificado que a “maluqueira” que tinha dado ao VHT não tinha afectado o seu funcionamento, mas apenas tinha estragado a calibração naquele momento. Boa notícia. Começámos pela ZR do Col du Grand Bois – Riotord, com 31,75Kms., num traçado simples, diria que fluído, salvo no final que era mais sinuoso e interessante, com uma média de 49,9Km/h para os que, como nós, íamos na média alta. Recordo que a média baixa é de menos 5km/h que a nossa média. Pouca neve, algum gelo, as medidas a quadrarem nas figuras, tudo certinho. Resultado, 12 pontos no primeiro controlo (1,2 segundos recorde-se), aos 3,12Kms, e 2 pontos no segundo, aos 8,3Kms, ambos por atraso, o que resultou num 17º lugar.
Seguimos numa ligação interessante para uma das melhores classificativas do Mundo (que eu conheço e que também não é assim tão grande) quando com neve, St. Bonnet le Froid – St. Bonnet le Froid. E uma das mais chatas quando em seco. Felizmente, este ano estava “de película” ou “de cine” (perdoem-me, mas é o que dá passar uma semana com espanhóis cheios de graça e que nunca se calam), neve quanto baste, um bocadinho de gelo, uma maravilha. Correu bem, ainda que tenha obrigado a esforço suplementar, já que resolvi “abrilhantar” e, numa curva que me sai todos os anos mal, vai de dar o toque no travão de mão para o espectáculo para o (muito) público presente. Asneira e grande “pionaça” à entrada de uma ponte que era filmada, em seco, nas reportagens do WRC. De qualquer forma, como este ano o controlo não estava por lá, não aconteceu nada de mal. Até aqui, por as estradas são largas e a neve dá para ir certinho, mesmo com as “atravessadelas”, as medidas continuavam a quadrar bem.
Infelizmente, fiei-me no que me tinham dito quanto a não estar muito nevado e disse à Marta para não filmar. Asneira de que me penitencio.
Neste troço de 26,11Kms., com uma média de 49,4Km/h, tínhamos controlos aos 6,58Kms e aos 14,88Kms., onde penalizámos 8 e 5 pontos, ambos por atraso, acabando em 6º lugar. O pião tinha acontecido aos 11,45Kms., pelo que a recuperação do tempo perdido não esteve mal...
Dali foi um saltinho, por estrada bem nevada para a ZR 3, Lalouvesc – Labatie d’Andaure, com 20,22Kms., para uma média de 49,8Km/h. Troço normalmente seco e de que não gosto particularmente, ainda que tenha alguma condução. Este ano apresentava bastantes partes com gelo devido à sombra, o que lhe conferiu alguma maior dificuldade. De tal forma que o primeiro controlo estava ao fim de uma dessas zonas, bastante comprida por sinal, e pensei que tínhamos levado para aí uns vinte e tal pontos aos 8,61Kms. No final, foram só 3 os pontos que perdemos.
E isto porque ao cortar curvas, traçar rectas entre curvas ligeiras e escorregar vamos marcando menos metros que os reais e, consequentemente vamos mais depressa que o necessário. Isto ainda demorou um bocado a entender, até porque me veio à memória umas declarações que tinha feito ao Pee Wee, depois do Rallye de 2004, dizendo que as medidas da organização eram erráticas. Feito o “mea culpa” interior para com os senhores do ACM, passei a ter em conta essa realidade para as provas seguintes.
Sim, porque nesta estava para vir a primeira “machadada” nas nossas aspirações. Com efeito, um bocado mais à frente deparamo-nos com um Comodore GSE, tudo menos um carro pequeno, parado junto a um jipe que vinha em sentido contrário. Impossível de passar e, já encostados ao GSE, vemos que tinham batido, ainda que nem se percebesse nenhuma consequência para o jipe. O que é certo é que estavam a discutir fora dos carros e o condutor do jipe com pouca vontade de acabar com a discussão. Lá fomos pedindo, à força de toques de luzes e suaves buzinadelas, para se tirarem da frente, mas nada. Lá salta a Marta do carro e eis que eles decidem seguir os seus caminhos.
Entretanto, já estava o carro que tinha partido no minuto seguinte atrás de nós (por acaso o José Toro) à espera de passar. Lá conseguimos adiantar o Comodore, um bocado em cima da neve e com o outro lado a tocar no guarda-lamas do GSE que estava arrancado tipo lata de sardinhas (em Valence acabaram por arrancá-lo) e aí vamos nós a recuperar o tempo perdido. Só que, quando a Marta coloca o “escritório” em ordem deparamo-nos com o ATB a iniciar a contagem. Por certo com a saída e entrada rápida a Marta tocou na tecla RAZ (ida a zeros). Nada de dramas e como VHT continuava a contar a distância, vai de tirar as “velhas” tabelas e seguir pelo cronómetro (valeu-nos aí o plano B e não foi preciso ir ao C nem ao D) e seguimos à antiga. O plano C significa ir apenas “guiado” pelas rotações e o D é fiarmo-nos no velocímetro e dar o respectivo (grande) desconto, na primeira vez na vida do carro que ele estava a funcionar.
Só que ao passarmos à figura seguinte a Marta detectou que o VHT ia a contar bastante menos que a distância marcada. E aí ficamos naquela dúvida que por muito que preparemos, na hora sempre nos assalta o espírito: quando o conta metros marca a menos é preciso ir mais depressa ou mais devagar? Bem puxámos pela cabeça, mas com a pressão da prova só chegámos a uma conclusão (certa) na aproximação ao final do troço e, um pouco antes (Km.19,51) estava o controlo. E lá comemos 152 pontos por avanço. Total no troço 155 pontos e o 139º posto na ZR. Bom, lá era preciso (tentar) recuperar no resto do rali.
Conclusão: QUANDO O CONTA METROS MARCA A MENOS É PRECISO IR MAIS DEVAGAR E QUANDO MARCA A MAIS É PRECISO IR MAIS DEPRESSA. NÃO PODEMOS ESQUECER ISSO! ATÉ À PRÓXIMA EM QUE TAL ACONTEÇA!
Do final dessa ZR até ao controlo horário de St. Agrève fomos por uma estrada estreitinha e cheia de neve que foi um dos sítios mais espectaculares de todo o rali. Aí encontrámos um 911 grego fora de estrada e tivemos que parar para deixar um carro do ACM fazer inversão de marcha para ir tirar o Porsche da valeta. O NSU que vinha atrás de nós travou tarde e lá foi “aux choux” (às couves em português). A seguir era ver carros parados em várias situações mais ou menos complicadas.
Daí seguimos para o Burzet, 45,59Kms. à média de 48,1Km/h, outro dos pontos altos do Monte Carlo. Na subida até Lachamp Raphael estava quase tudo seco e no planalto que antecede essa localidade até quase que dá para dormir. Mas na descida, a partir daí até os mortos acordam, com neve e gelo e curvas para todos os gostos. Tantas que lá veio o segundo pião do dia. Endireita e vai de atacar para recuperar, apenas com um pequeno intervalo para esperar para deixar que os espectadores ajudassem a tirar o nº 39 de uma situação um pouco mais complicada. Como tínhamos lido no Piel de Toro que as distâncias oficiais para o troço estavam com uma diferença de cerca de 200 metros (para menos) em relação ao que tinham verificado nos treinos, decidimos ir fazendo esse desconto. Boa prática que nos levou ao segundo lugar da ZR, com 8 pontos ao Km.17,615 e 9 ao Km.39,33, ambos por avanço.
Ou seja sem o segundo controlo de Lalouvesc, tínhamos feito 47 pontos em 7 controlos o que dá a bonita média de um pouco menos de 0,7 segundos por controlo, o que, convenhamos e passe a imodéstia, é excelente.
Do Burzet, uma classificativa que, tal como St. Bonnet começa e acaba na mesma povoação, seguimos para um troço de que gosto particularmente, Antraigues – St. Pierreville, 30,19Kms. (30,01Kms. na nossa medida). Este é um troço que sempre foi disputado ao contrário (no mesmo sentido em que correu o WRC), rápido até St. Julian du Gua e cheio de ganchos desde essa povoação até à estrada principal para St. Pierreville. É a parte que está num vídeo que anda na Internet e devidamente assinalado no Piel de Toro, responsável por começarmos a ficar sem pregos com as atravessadelas que fomos fazendo, e que tem uma das histórias “deliciosas” da nossa primeira participação.
Aí, nessa edição, o rali foi atrasado cerca de uma hora por uma manifestação e, como estávamos muito cansados depois de dormirmos as tais três horas depois do percurso de concentração e estávamos a fazer um dia inteiro depois de uma noite relativamente mal dormida, partimos sem grande concentração, com a consequente falha no cruzamento para St. Julian du Gua. Como houve muito mais gente a fazer o mesmo fartámo-nos de passar carros numa estrada cheia de neve. Só quando chegámos ao cruzamento do Col de la Fayolle e tivemos que virar à direita e não seguir em frente é que achámos que havia qualquer coisa que não batia certo. Mais preocupados ficámos quando chegámos à assistência e o João Marques ainda não tinha chegado. Lá ficámos a pensar que alguma coisa de grave podia ter acontecido... e tinha, só que não com o João mas sim connosco! Um controlo falhado e mais uma pipa de pontos! Como eram para apanhar num cesto já bastante cheio, também não fez grande diferença.
Este ano, para além dos pregos que se “perderam” para gozo dos muitos espectadores que tinham ido passar o domingo a ver carros, e não termos sido brindados com as célebres tartes de mação do Yves Jouanny (concorrente habitual do rali e antigo navegador do Jean Claude Andruet) correu tudo bem e fizemos o 27º lugar, com 19 pontos (por avanço) aos 11,015Kms. (bastante antes do Col de la Fayolle) e 16 (por atraso) aos 20,385Kms. (dentro de St. Julian du Gua). Até ao fim do troço ainda havia uma parte gelada onde íamos saindo, mas nada de grave.
Por essa altura já estávamos a receber via SMS as nossas pontuações, num trabalho espectacular do José Segarra que nos acompanhou até ao fim do rali. Foi a cereja em cima do bolo de um trabalho também espectacular do Lau, no Classicclube e do “nosso” Nuno com as informações meteorológicas quase “on line”.
Daqui até Valence apenas houve o controlo horário numa área de descanso para reagrupamento depois de tantas horas a “aviar” caminho.
Como um dos nossos companheiros, o Alberto com o Diego, ia à frente, em vez de irmos descansar, passámos quase cinco horas entre o bar e o restaurante, na conversa e a “dar cabo” de três garrafas de champanhe mais do vinho que acompanhou a refeição. Os ralis de regularidade também têm estas coisas de bom!
E lá fomos para um soninho retemperador que o dia seguinte era longo. E ainda nem sonhávamos como ia ser duro e com reflexos bem negativos na classificação final.