Já com alguma distância temporal da “coisa” vamos então contar algumas das peripécias que nos levaram a mais esta “aventura internacional” e, também, ao que se passou a seguir. Como ficou um “bocadinho” extenso, não sei se alguém terá pachorra para ler...de qualquer forma, ficou feito e aqui está.
OS ANTECEDENTES
No final do 7º Monte Carlo Histórico tomámos uma decisão, essa sim, histórica: “Nunca mais cá pomos os pés, a não ser que tenhamos reunidas as condições para fazer boa figura”. Claro que o que eu disse foi mesmo “para ganhar”, mas agora não o queria escrever para não começarem já apensar, “lá está o gajo com a mania”. Adiante.
E esta decisão ficou a dever-se a quê? A uma relação difícil que o “Monte” me desperta. Em primeiro lugar traz-me memórias do final da infância com, primeiro, a leitura dos jornais e da Revista do ACP a relatarem as partidas de Lisboa, depois ao descobrir com o meu irmão, mais velho, as transmissões da “noite do Turini” na Rádio Monte Carlo (onda curta, se não me engano) e o início de uma relação de muitos anos com o “L’Automobile”, quando este trouxe o relato da tristemente célebre edição de 66 e o ensaio comparativo entre o Cooper S e o DS 21 na subida do Mont Ventoux.
Com isto tudo se foi criando a vontade de “um dia, ainda lá vou...” Aqui ainda estamos na parte do sonho, se bem que já temperado com alguma desconfiança por causa das interpretações “esquisitas” dos regulamentos que por lá se praticavam, e não tinha ainda lido a história de outras edições, em que aquilo parecia feito à medida para ganharam uns e tramarem-se outros.
Quando me interessei por estas coisas dos clássicos “tropeço” no anúncio do 1º MC Histórico. Ainda que estando quase a zero em termos de experiência (preparação do carro, preparação das provas, ter perfeita consciência do que lá andava a fazer, etc.) e depois de uma frustrante participação no Liège – Istambul – Liège (mais uma “maluqueira” em que nos metemos), aí vai de enviar a inscrição.
Como era pouco conhecida e havia alternativas já bem estabelecidas, só apareceram cerca de 60 inscritos e fomos aceites.
Aqui entrou a necessidade de um passaporte FIVA e o contacto com o CPAA, do qual fiquei vacinado, para meu bem, porque ficaram descartadas irritações futuras, e para bem do próprio CPAA que deixou de ter um potencial “melga” a criar problemas face ao espírito que por lá reina(?va).
Com todos os problemas criados para a obtenção de uma Ficha FIVA, ajudados por uma agenda doméstica difícil – as filhas mais novas eram bastante pequenas e não andavam muito “sintonizadas” uma com a outra e a “dona da casa” tinha de ir a uma feira ao estrangeiro nessa semana – decidimos não ir. Simpaticamente, a organização devolveu-nos o dinheiro por inteiro, apesar da desistência ter ocorrido a uma semana do início da prova.
E o “bichinho” lá ficou, se calhar mais activo, até porque agradecido. Tão activo que, para a edição de 2001 e em parceria com o João Marques e o Carlos Costa (grande equipa, bons Amigos, com quem aprendemos muito) lá preparámos com todo o cuidado a nossa participação. Habituados às nossas provas secretas, não fomos reconhecer o percurso, nem preparámos road books, nada. “Apenas” trabalho (muito trabalho) sobre mapas, retirada de elementos da Internet, escolha de pneus, tudo preparado como julgávamos necessário. Mas, porque foi tudo feito off-line, a realidade encarregou-se de nos tirar as ilusões, quando o nevão que caiu antes da primeira ZR (Zona de Regularidade) nos apanhou na nossa inexperiência prática para lidar com tal situação. De nada serviram os nossos “batedores” (Raul Cordeiro / João Sismeiro) nem as excelentes equipas de assistência (Vítor João Marques / Santos, João Santos / Vítor). Tudo por água abaixo, com um 185º lugar para nós, com o João e o Carlos a atingirem o 141º. De tudo isto ficaram algumas peripécias engraçadas, de quem tinha que andar lá para trás da classificação no meio da neve, umas saídas de estrada e um grande frio para tirar o carro e, principalmente o jantar de gala das assistências, batedores e Carlos Costa (alegando que não se dava bem com o “smoking”) em Itália. Situação que se foi repetindo nos anos seguintes, sempre com resultados a rondar o ir tudo preso por “bom” comportamento no regresso ao Mónaco.
Aprendemos alguma coisa, preparámos a edição seguinte ainda com mais detalhe, os batedores já nos iam fazendo um mini “road-book”, com indicação das principais armadilhas climatéricas, com 24 horas de antecedência, etc. Neste ano, juntaram-se mais duas equipas nacionais à caravana o João Vilarinho com o Rui Silva e o Pedro Sena com o António Guerra.
A principal “estória” desta edição foi termos marcado a dormida em Vals les Bains num Turismo Rural. Pelos vistos utilizado essencialmente por casais. A saída das carrinhas de assistência daquele grupo de marmanjões provocou uma cara de espanto tão grande nos donos da casa que ainda hoje me dá vontade de rir só de pensar nisso. Ao contrário do ano anterior, foi a edição mais seca que disputámos e que a tornou um pouco (bastante) chata. Nunca conseguimos estar bem calibrados e entrámos para a última noite por volta do 40º lugar. Aí, com um nevoeiro dos antigos no Col de la Madonne a coisa deu luta. Passámos tanta gente e correu tão bem que o Turini também foi sobre rodas, ainda que não estivesse tão difícil. Tínhamos subido para 10º, o João também estava nos vinte primeiros. Tudo a correr bem. Último troço, ganhamos o primeiro controlo e, depois, grande asneirada. Metemos na cabeça que a ZR acabava aos dezasseis quilómetros e qualquer coisa e vai de descansar. Só que era aos vinte e três e tal e lá nos caiu um minuto e a correspondente queda para o 16º. Para não ser tudo mal, o João ganhou a ZR, até agora feito único para as equipas nacionais, e subiu a 17º.
Tudo isto deixou um sabor amargo, até porque caro! Muito caro!
Lá voltamos em 2003, agora acompanhados por uma “grande armada”, num total de 6 carros: nós, os “Joões”, Marques e Vilarinho, agora com o Paulo Silveirinha, o Fernando Castro e o José Marques, o Pedro Dias com o irmão João e o Pinto Antunes com o José Segarra. Edição de luxo, com nevões espectaculares. Que começaram logo no percurso de concentração, onde até fomos dos únicos a passar por uma estrada já encerrada ao trânsito e onde fomos encontrar uma equipa espanhola de um SEAT atascados e sem vontade para sequer sair do carro. Lá os “desenrascámos” e seguimos, com alguns “atolanços” pelo meio. Aí saía tudo, dava-se um empurrão e lá seguíamos todos outra vez, com os espanhóis agarradinhos às nossas traseiras, presumo que com medo de voltarem a ficar sozinhos. Foi com grande espanto que, ao pararmos por um bocadinho para relaxar, quando acabámos essa estrada e entrámos na principal começámos a ver toda a “rapaziada” a vir de outra estrada. Espertos...
As coisas foram-se pondo de tal modo complicadas que, talvez também por estar atrasado com uma calibração completamente “fora do sítio” logo no início, o João Marques “desistiu” de subir o Col de Menée ao não funcionar o limpa pára-brisas e a neve a cair forte, e a subida a ser complicada. Deste Col havemos de falar mais tarde, já que nos ajudou a tramar a prova deste ano. Foi também no alto de Menée que vimos um dos toques mais espectaculares das nossas vidas. Este Col é atravessado, na parte mais alta da estrada, por túnel, para aí com uns 300 ou 400 metros. Á saída, no s